Blog do Taine- Mártir contra a Violência e a Tortura: maio 2011

domingo, 22 de maio de 2011

Quando cai o véu

Não contabilizo as mentiras que se materializam em gestos, se expõem em sorrisos, apertos de mão e tapinhas nas costas! Muitos foram os omissos e covardes a tentar me convencer que a dor cega e enlouquece uma mãe.

Desminto seus vis argumentos! A dor é um colírio poderoso, quem não enxergar através dela precisará de ato cirúrgico, pois que a verdadeira cegueira aí se instaurou. Foram as lágrimas mais volumosas que limparam o cristalino, conferindo aos meus olhos a potência da visão.

Vi o descaso com o qual a vida e a morte são tratadas em Alagoas! Senti na pele a humilhação de quem sobe os infames degraus do IML; a frieza e arrogância do legista, a banalização do próprio erro e o empurra de culpas. No atestado de óbito do meu filho um endereço estranho: uma rua que não conheço, uma cidade onde não viveu nem morreu, contudo, o IML não assumiu nem desfez o erro. Está registrado assim!

Minha loucura foi expressar a indignação diante de todos os “erros” institucionais! Minha sanidade é denunciar o descompromisso e prever a esperança como fruto de uma luta assumida por todos, quanto mais evitada, mais retardada! A cada dia vejo o renascer o sol...a cicatrização que ele anuncia não entorpecerá a mente, nem subornará o coração!

Meus filhos são cada um dos meninos despojados de oportunidades, a perambular pelas vielas da dor, do abandono, da perseguição...os órfãos do meu tempo...

Sempre que eu falar de esperança estarei acariciando um rosto de filho!

Meu jejum absoluto de jamais sentar na mesa da iniqüidade, manterá o canto triste e contínuo na minha voz. Cada vez mais materna! Cada vez mais cidadã! Mais humana...

Nem anéis, nem medalhas, nem reconhecimento me interessam!

A luta pela vida, e pela vida em abundância, é o combustível do meu respirar! Na consciência de que sou mãe, vítima da violência social e institucional em Alagoas, com olhos de ver e mente de pensar.

Sobre quantas mentiras e medos deverei firmar minha vida?

Sobre quantas mentiras e medos deverei firmar minha vida?

Recuso a oferta iníqua da falsa sensação de segurança.

Segurar o que, quando minha vida foi violada e os inimigos da justiça

Continuam gerenciando a história?

Dias das mães não foi meu dia!

Recusei a brincadeira mercadológica e as tradições que dissimulam as dores.

Sofri a memória da injustiça materializada em minha vida, entre tantas

Com menos voz do que eu mesma!

Não foi apenas a perda da presença física do filho amado, mas o

Convívio com a corrupção material e imaterial que alimenta a impunidade.

Há um ano: dia das mães de 2010, meu filho chegou chorando, afirmando ter

Sido vítima de assédio pelo mesmo denunciado de tortura, hoje condenado em

Sentença judicial, mas que, apesar disso, continua sendo SECRETÁRIO DE SEGURANÇA em Matriz de Camaragibe!

Que piada de mal gosto é o Estado brasileiro ?!

Na ocasião, o mesmo olhou para meu filho, à época com 15 anos, e colocou a mão

Sobre o que sugeria ser um revólver.

Meu filho chorava em meus braços! Minhas palavras não o consolavam mais.

A tragédia se insinuava, rondando o mesmo palco, os mesmos autores, a mesma vítima... Será que há coincidência nessa história?

Não me aconselhem a ter medo.

Olhe para o seu filho que joga videogame em casa tenha medo de vê-lo viver o que eu vi o meu filho.

Não se preocupem comigo.

Preocupem-se com os tipos de políticos que continuam sendo conduzido ao poder para acobertar crimes e cometê-los, quando lhes apraz.

Não me lamentem a sorte.

Lamentem a sorte do Brasil, de Alagoas, de Matriz de Camaragibe, embebidos no crime impune, sob a penalização da vida.